Pesquisadores seguem em alerta com o risco de a gripe aviária se transformar em uma nova pandemia. A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, defende o desenvolvimento urgente de vacinas mais modernas e eficazes como principal forma de prevenção. A grande aposta dos cientistas é a vacina universal contra a influenza, capaz de agir contra diversos subtipos do vírus. Essa nova tecnologia, baseada em RNA mensageiro, mostrou bons resultados em testes com animais, apresentando resposta imune para 20 cepas diferentes do vírus da gripe, com proteção por ao menos quatro meses.
Apesar de já existirem vacinas específicas contra o vírus da gripe aviária e estoques de emergência em cerca de 20 países, o Brasil busca autonomia com o desenvolvimento de seu próprio imunizante, formulado pelo Instituto Butantan em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os testes em animais já foram realizados e o próximo passo depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os testes em humanos.
A preocupação dos especialistas está na rápida capacidade de mutação do vírus H5N1, que já infecta mais de 350 espécies, incluindo mamíferos como gatos domésticos. Segundo Levi, se o vírus adquirir uma mutação que facilite a transmissão entre humanos, pode se tornar o causador de uma nova pandemia. Embora a taxa de mortalidade venha caindo desde 2015, ela ainda é considerada alta. Desde 2003, foram registrados 969 casos em humanos, com 457 mortes, o que representa uma letalidade superior a 50%. Em 2025, entre os 72 casos confirmados nas Américas, dois foram fatais — um nos Estados Unidos e outro no México.
A transmissão atual ocorre por contato com animais infectados, mas o número de surtos segue aumentando. De outubro de 2024 a fevereiro de 2025, foram registrados mais de 900 surtos em aves de criação e 1.000 em aves silvestres, ultrapassando os números de toda a temporada anterior. No Brasil, o primeiro caso foi registrado em maio de 2023 e, até o momento, já são 166 focos da doença, sendo três em aves de criação. Como medida preventiva, o Ministério da Agricultura e Pecuária prorrogou por mais 180 dias o estado de emergência zoossanitária.