O que parecia um dia comum tornou-se um marco na vida de Paulo, nome fictício adotado para preservar a identidade da família. Sua filha adolescente, em crise, pediu ajuda de forma direta: “Me ajuda, me interna, que eu estou surtada”. Diante da gravidade da situação, ele a levou imediatamente ao hospital.
Enquanto aguardava o atendimento, Paulo decidiu olhar com mais atenção o celular da filha. Uma palavra repetida em várias conversas chamou sua atenção: “Lulz”. Sem entender o significado, buscou informações e encontrou uma reportagem do Fantástico de 2023, que expunha grupos em plataformas como o Discord, onde adolescentes são incentivados à automutilação e a comportamentos autodestrutivos.
“Eu assisti a essa reportagem ali mesmo, no estacionamento, completamente chocado. Foi quando entendi o que estava acontecendo com minha filha”, relatou.
Hoje, a jovem está em casa, recebe acompanhamento psiquiátrico e voltou à rotina escolar. Para Paulo, a experiência trouxe aprendizados duros sobre a relação entre filhos, tecnologia e o papel dos pais. Ele admite ter se sentido culpado por ter dado o celular cedo demais e por não ter monitorado o uso do aparelho.
“Esse pudor que eu tinha de olhar o celular dela foi um erro. Pai tem que ter a senha, tem que saber o que o filho está acessando. É uma questão de proteção.”
O caso da filha de Paulo reforça os alertas do psicólogo social Jonathan Haidt, autor do livro A geração ansiosa. Segundo o especialista, o uso precoce e sem controle das redes sociais está diretamente associado ao aumento de transtornos mentais entre adolescentes.
Haidt afirma que, quando adolescentes são internados e ficam longe das telas, sinais de melhora geralmente aparecem entre 15 e 20 dias. “O cérebro se recupera. E aquele filho doce e maravilhoso volta a aparecer”, explica.
A história de Paulo expõe uma realidade que muitos pais ignoram: o ambiente virtual também pode ser perigoso. Monitorar, conversar e estabelecer limites deixou de ser uma escolha e se tornou uma necessidade diante dos impactos do mundo digital na saúde mental dos jovens.