Isenção do Imposto de Renda deve reduzir desigualdade e estimular consumo, apontam especialistas

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sancionar, na próxima semana, o Projeto de Lei nº 1.087/2025, que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil por mês. A medida, aprovada pelo Congresso Nacional, também reduz as alíquotas para rendimentos entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350 e eleva a tributação sobre altas rendas — acima de R$ 600 mil anuais (ou R$ 50 mil mensais).

A expectativa é que Lula assine a sanção a partir do dia 11 de novembro, após retornar de Belém (PA), onde participa da Cúpula do Clima.

Estímulo ao consumo e impacto econômico

Segundo analistas, a nova faixa de isenção trará alívio financeiro para milhões de trabalhadores e deve aumentar o consumo das famílias, reduzir o endividamento e impulsionar o PIB.

O economista João Leme, da Consultoria Tendências, estima um crescimento adicional de 0,15 a 0,2 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB). “O impacto no bolso do trabalhador será equivalente a um 14º salário, distribuído ao longo do ano”, afirma.

De acordo com Pedro Humberto de Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os estratos mais baixos da classe média terão ganho mensal médio entre R$ 350 e R$ 550. “Vai ser uma folga orçamentária considerável”, observa.

Possíveis efeitos na inflação

Apesar do otimismo, Carvalho aponta que o aumento do poder de compra pode gerar inflação localizada em setores como comércio, educação, saúde, tecnologia e turismo. Ainda assim, ele descarta alta significativa nos alimentos.

Para Victor Pagani, do Dieese, a inflação não deve ser um problema, pois “está sob controle e em desaceleração”. O especialista destaca o potencial da medida para reduzir desigualdades econômicas, ao aliviar os impostos sobre rendas mais baixas e elevar a tributação sobre os mais ricos. “A proposta resgata o princípio constitucional de tributar de acordo com a capacidade contributiva”, afirma.



Justiça fiscal e desafios estruturais

O advogado tributarista Bruno Medeiros Durão considera a atualização da tabela do IR um “passo importante em direção à justiça fiscal”, mas ressalta que mudanças estruturais ainda são necessárias.

“O problema do nosso sistema não é apenas fiscal, é de justiça social. É impensável manter isenção sobre lucros e dividendos enquanto o trabalhador paga imposto sobre o salário”, defende.

Durão também critica a defasagem da tabela do IR e o número reduzido de faixas de tributação. Para ele, o ideal seria corrigir a tabela anualmente, ajustando-a à inflação, ampliar o número de faixas e criar uma alíquota máxima mais alta para grandes fortunas.

As novas regras entram em vigor em 2026, com expectativa de gerar impacto positivo na economia e maior equilíbrio na distribuição de renda.