PM entra armada em escola infantil de SP após pai reclamar de desenho sobre cultura afro-brasileira, diz funcionária

 Uma funcionária da Emei Antônio Bento, na Zona Oeste de São Paulo, afirma que doze policiais militares entraram na escola armados, incluindo um agente portando uma metralhadora, após uma denúncia feita por um pai de aluna. Segundo ele, a filha estaria sendo submetida a uma “aula de religião africana” por causa de um desenho que continha o nome “Iansã”.

De acordo com a funcionária, que pediu anonimato, a presença dos policiais causou medo e constrangimento entre profissionais e responsáveis pelos estudantes. A ação teria ocorrido na terça-feira (11), e a denúncia foi formalizada em um relatório no dia seguinte. Ela afirma ter sido interpelada e coagida pelos PMs por cerca de 20 minutos.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública informou que a Polícia Militar abriu uma apuração interna para avaliar a conduta da equipe que atendeu a ocorrência, incluindo a análise das imagens das câmeras corporais.

A testemunha relatou aos policiais que a escola segue o currículo antirracista da rede municipal, que prevê atividades relacionadas à cultura afro-brasileira.

Segundo a jornalista Ana Aragão, representante da Rede Butantã, o episódio gerou indignação entre moradores e instituições da região. Ela contou que o pai teria rasgado desenhos expostos no mural da escola, produzidos pelos alunos.

A Rede Butantã organizou um abaixo-assinado em defesa da Emei Antônio Bento, manifestando apoio aos profissionais e condenando o que classificou como atitude “inadequada e racista" por parte dos policiais ao orientarem a comunidade escolar. No documento, os moradores afirmam que a escola cumpre seu papel ao promover diversidade e formação cidadã.



O texto reforça a rejeição a qualquer forma de intolerância religiosa, discriminação ou racismo e defende o direito das crianças a uma educação plural. O grupo solicita cinco medidas às autoridades, entre elas: responsabilização do pai pelos danos ao material escolar, investigação da conduta dos policiais por possível abuso de autoridade e ações educativas sobre diversidade para todos os envolvidos.

A funcionária que relatou ter sido coagida afirma que a ação foi registrada pelas câmeras da própria escola e que as imagens estão disponíveis para investigação.

Em nota, a Secretaria Municipal da Educação informou que o pai foi esclarecido de que o desenho fazia parte de uma atividade coletiva e que a proposta pedagógica segue o que determina o Currículo da Cidade, incluindo o ensino obrigatório de história e cultura afro-brasileira e indígena.